A leonina
Tão logo a primeira tormenta da
primavera deu trégua, a camareira do Hotel Campanile, dessa feita, não desejou
voltar para casa e preparar o jantar para Jonathan. Preferiu percorrer a alameda
do parque Stanton. Seguiu alternando os passos revestida de tanta verdade que
pouco percebeu as adoráveis árvores caprichosamente dispostas à margem ou seus
sapatos lamacentos que chafurdavam nas poças. Egocêntrica, Melissa percebia-se pouco
capaz de quedar-se à paixão. Confusa, ainda que satisfeita, arqueou o cantinho
direito da boca cor-de-rosa desenhando um meio sorriso divertido. Até mesmo aos
intuitivos e determinados, essas estranhas malhas que o destino tece envolvem
surpresas. Ela que, invariavelmente, reluta em perder seu tempo aos estados
depressivos da alma, rende lealdade aos próprios sonhos, somente a eles é
devedora. Esse sentimento tão avassalador é artefato muito raro, então soltou
os cabelos. Desejou experimentar o vento que mesclou os fios negros e cacheados
aos brancos que sobressaiam tal tímidos intrusos. A indiferença é cansativa e
Melissa a odeia. Permitiu que a longa saia voasse livre e descobrisse uma
deliciosa porção das coxas morenas. Não importaram as consequências. Ela que
jamais teme ser impulsiva, não cedeu às duras penas da mentira.
Ao final da alameda há o córrego.
Foi lá que a mulher afogou suas razões no calor úmido de uma boca. Sentiu a
indiferença dissipada ao aperto firme das mãos que pousaram sobre suas nádegas.
Não havia tempo a perder.
sacharuk
Nenhum comentário:
Postar um comentário