uivo
noite surda
o uivo
cheia lua
o cão
canto escuro
o motivo
o amanhecer
o vão
uiva pra lua
o danado
ofendido
irado
oculta a face nas mãos
o dia nasce calado
incontido
iluminado
outros corpos ao chão
sacharuk
### #somos mimese dos desadornos - alguns lua outros lâmpadas - outros rio alguns balde - as adversidades da estética#
não estou para falar de amor se ele ainda não dói, nem rói, nem pede flor. Não há flores na minha poesia, as arrancadas são mortas, são decoração de sepultura. Meu poema é heresia. Conheço esse tal de amor, não encontrei deus algum e amor e deus até podem ser compatíveis mas não dependem um do outro, o único ponto em comum: eles não são invencíveis. Não falarei de coisas que desconheço, pois o meu apreço é pelo amor que sinto e não devo a uma criatura que o senso comum insinua e minha cabeça não atura. Minha escrita é a riqueza que colho do meu presente, mesmo que seja inventado, pois poeta mente, mas não se faz ausente, e eu não vivo de passado nem me dedico à tristeza, só quando fico parado. Grito contra o que abomino e não suporto determinismo. Minha ferramenta é o poema e meu alvo é o sistema. Sou tipo existencialista meio insano, meio analista, falso moralista, talvez sartreano. Tenho a marca da história. Todo gaúcho é artista e sou pampeano com muita honra e glória. Sou amigo da filosofia e esta não é feita de fadas, nem gnomos e crenças,nem de almas penadas ou universais desavenças. Eu vim aqui escrever poesia e isso para mim não é só brincadeira, pois no fim, o que consome energia é o abre e fecha da porta da geladeira.

mão na guaiaca
mão na guaiaca
noite de sexta-feira
apartei os bichos
de volta à mangueira
bebi uma cachaça
sou cria guacha
vesti a bombacha
apertei barbicacho
me fui pro bolicho
apreciar uma china
a bailar rebolicho
e amarrar o cambicho
para o fim de semana
china sacana
não enganas
meu sangue castelhano
eu sou orelhano
conheço os hermanos
tenho um tio tupamaro
mas eu sou chimango
depois de uns tragos
danço até tango
mas não tenho sina
para unha de vaca
garanto o rango
então vem e te atraca
uma mão no mango
outra na guaiaca
sacharuk
ditirambo
ditirambo
tua saúde mental
malabarista movida a álcool
toda cagada na corda bamba
dança para minha estima
o som da minha composição
não sabe cantar outro samba
qualquer ditirambo perdido
logo precisas sambar comigo
pois eu te levanto do chão
sacharuk
tua saúde mental
malabarista movida a álcool
toda cagada na corda bamba
dança para minha estima
o som da minha composição
não sabe cantar outro samba
qualquer ditirambo perdido
logo precisas sambar comigo
pois eu te levanto do chão
sacharuk
Sobre o Fogo
Sobre o Fogo
Seria o amor coisa doce
não fosse essa estranha dança
sobre o fogo de feitiçaria
seria amor se não fosse
esse estranho jogo de cobrança
sob o gelo da hipocrisia
onde vislumbro a palavra macia
e esses olhos de desconfiança
de quem oculta insanidades
onde descubro que me desafia
quando sugestionas andanças
no território das meias verdades
vejo o entrecorte das suas vontades
que afiam a faca da torpe vingança
com a cabeça ofertada numa bandeja
recorro a rezas, a preces, entidades
- bem lá no fundo, quero-me esperança
de que o que vejo, mais assim não seja -
Seria o amor coisa doce
fosse movimento e mudança
sobre o fogo da poesia
Lena Ferreira & sacharuk
a princesa do sul
a princesa do sul
eu te amei no vale dos sonhos
numa tarde de sexta-feira
num cochilo na cadeira
sonhei com teus olhos risonhos
teus finos traços de princesa
cabelos negros formavam espirais
única herdeira do amor dos teus pais
a sucessora da realeza
naquele vale havia uma aldeia
logo no centro do bosque encantado
onde a sorte daquele reinado
era manipulada pela feiticeira
sob o agouro de uma tentativa
a magia negra no bosque vingou
não restaram pessoas vivas
somente tu, a princesa, escapou
e passaram-se dezesseis anos
quando então te tornaste rainha
sem o teu povo reinavas sozinha
aos duros desígnios dos arcanos
mas num certo dia tiveste a visão
de uma deusa envolta em seu manto
que prometia quebrar o encanto
assim que tu beijasses o chão
então a terra ofertou as mercês
o abraço materno envolveu-te ao colo
o encanto sombrio quebrou-se de vez
quando teus lábios tocaram ao solo
o céu em festa recobrou seu azul
a linda aldeia tornou-se cidade
tornou-se recanto de felicidade
e foi batizada Princesa do Sul
e nos meus sonhos eu quero
voltar sempre para nossa aldeia
à margem da praia espero
minha princesa beijar lua cheia
sacharuk
acerca da ilusão
acerca da ilusão
a casa onde mora ilusão
não é um buraco no vão
ou argumento destituído
utopia inconsistente
silogismo diluído
não tem no juízo
a sua razão
habita um recôndito empírico
não tem estatuto científico
é só desejo de pura expressão
a ilusão tem a cara da musa
de natureza doce e confusa
para insinuar a fantasia
é mãe do fogo da criação
a leal amiga da inspiração
que nasce no reino da poesia
sacharuk
ela quer dançar para a Lua
ela quer dançar para a Lua
ela chega bem leve
cadência tão quieta
poisa silente
em compasso de pluma
ela cai chuva fria
despenca repleta
no meu corpo quente
em gotas nuas
ela aponta o poente
seus sussurros molhados
declamam eloquentes
versos improvisados
denuncia segredos
confessa silêncios
que ouço encantado
de olhos fechados
ela quer dançar dançar
vai dançar
para a Lua
ela quer dançar dançar
vai dançar
para a Lua
ela mostra tão lindas
suas asas abertas
de matizes brilhantes
ela tremeluz radiante
sobre a fogueira
tal serpente de vento
enroscada na voz
de um sopro
um sopro
um sopro
ela aproxima cadente
na boca o sorriso
sorri divertido
de um só lado
denuncia segredos
confessa silêncios
que ouço encantado
de olhos fechados
ela quer dançar dançar
vai dançar
para a Lua
ela quer dançar dançar
vai dançar
para a Lua
sacharuk
ela chega bem leve
cadência tão quieta
poisa silente
em compasso de pluma
ela cai chuva fria
despenca repleta
no meu corpo quente
em gotas nuas
ela aponta o poente
seus sussurros molhados
declamam eloquentes
versos improvisados
denuncia segredos
confessa silêncios
que ouço encantado
de olhos fechados
ela quer dançar dançar
vai dançar
para a Lua
ela quer dançar dançar
vai dançar
para a Lua
ela mostra tão lindas
suas asas abertas
de matizes brilhantes
ela tremeluz radiante
sobre a fogueira
tal serpente de vento
enroscada na voz
de um sopro
um sopro
um sopro
ela aproxima cadente
na boca o sorriso
sorri divertido
de um só lado
denuncia segredos
confessa silêncios
que ouço encantado
de olhos fechados
ela quer dançar dançar
vai dançar
para a Lua
ela quer dançar dançar
vai dançar
para a Lua
sacharuk
velho blues
velho blues
hoje durmo na calçada
armo barraca na rua
meto o pé na estrada
lanço fumaça pra lua
passo a perna na vida
não faço sinal da cruz
eu sei viver na batida
o trem desse velho blues
lua cheirosa de incenso
no fogo da quintessência
no velho blues eu descanso
no embalo dessa cadência
e ainda eu junto as maricas
em busca de calor e luz
a barriga ronca larica
no trem desse velho blues
no trem desse velho blues
sacharuk
verbo alado
verbo alado
não desejo
dizer impropérios
pois não pretendo
ser esmagado
dessa sociedade
elemento banido
sem rastro de escrúpulo
ou qualquer bom motivo
não pedi
para ser perdoado
o que me dói
não pede remédio
a minha fé
não oculta mistérios
o meu ministério
exerce o pecado
o meu argumento
é incompreendido
tem ponta de raio
e também lenitivo
então é relegado
ao total despautério
para se dizer
carece critério
tratar das ideias
com certo cuidado
não se pode irromper
de espírito despido
nem ser tão sincero
sequer agressivo
sei que a felicidade
passeia ao meu lado
não pede verdades
crenças e assédios
o meu ateísmo
é um bom refrigério
encontro meu deus
num verbo alado
sacharuk
por fora da linha
por fora da linha
vejo-te cá
célebre e insana
bebendo cerveja
numa latinha
torturas sem dó
sem discernimento
aos que vivem à sombra
dos lamentos
bebes o sangue
nunca definhas
te fartas de luz
na sede sacana
abraças ao diabo
com graça com gana
em meio ao fogo
da erva daninha
tu que escapas
ao letal julgamento
tascas a picareta
no céu de cimento
antítese notória
de uma fadinha
asas abertas
no inferno de lama
não é só poesia
que a noite reclama
apontas teu dedo
tal uma varinha
as unhas que juram
rasgo sangrento
parto na noite
novo rebento
tua palavra
oculta artimanha
sem rastro das rodas
da tua caravana
se te insinuas
secreta e cigana
versos ocultos
por fora da linha
sacharuk
questão teleológica
questão teleológica
será o poeta
meramente um esteta
finge o que sente
sentimento ausente?
se finge o que sente
logo sente o que finge
está mesmo presente
ou somente restringe
de qualquer signo
deságua uma fonte
coração é desígnio
poesia é horizonte
sacharuk
paira a voz
paira a voz
paira a voz
sopro cuidadoso
manobras de vento
pela corda bamba
a voz pedra muda
quando a água desanda
a escorrer pensamento
marujo ruidoso
e qualquer palavra
cutuca e crava
os seus absurdos
paira a voz
pelo tom silencioso
sem dó sem lamento
não dá samba
a voz pedra surda
na vertente que canta
pelo ritmo lento
porta som poderoso
e qualquer palavra
empurra e trava
as portas do mundo
paira a voz
no silêncio curioso
seu secreto elemento
tanto diz e encanta
sacharuk
paira a voz
sopro cuidadoso
manobras de vento
pela corda bamba
a voz pedra muda
quando a água desanda
a escorrer pensamento
marujo ruidoso
e qualquer palavra
cutuca e crava
os seus absurdos
paira a voz
pelo tom silencioso
sem dó sem lamento
não dá samba
a voz pedra surda
na vertente que canta
pelo ritmo lento
porta som poderoso
e qualquer palavra
empurra e trava
as portas do mundo
paira a voz
no silêncio curioso
seu secreto elemento
tanto diz e encanta
sacharuk
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