O pingente
Mariana finalmente encontrou o pingente no cantinho da pia marfim, ao lado da saboneteira. Ela o havia perdido pela casa há três ou quatro dias. Tentou segurá-lo, no entanto, molhada e escorregadia, a joia tilintou sobre a torneira dourada, repicou repetidas vezes sobre a cerâmica cinza e perdeu-se novamente.
Dissuadida da nova busca, cuidou de abrir a água para encher a pequena banheira de hidromassagem.
Mariana sentou-se ao vaso e passou a escovar os cabelos com a escova de largas cerdas. Sentia arranhar levemente o couro cabeludo percorrendo memórias que escorriam às vertentes ao longo dos fios negros e lisos.
Penteada, segurou a toalha preta entre as duas mãos e descansou sua face sobre ela. Apertou o tecido sobre os olhos.
As memórias persistiam.
Enquanto despia-se, percorreu o chão com o olhar e encontrou o pingente caprichosamente oculto no vão entre os dois tapetinhos azuis.
Abaixou-se, resgatou a peça e observou-a demoradamente. Logo, jogou-a hesitante dentro da banheira já quase cheia.
Entrou lentamente na banheira, resgatou a jóia e a prendeu firmemente na mão direita, fechou os olhos e deixou a água cobrir sua cabeça.
Contornado pela forma de uma folhinha de palma, havia um nome sutilmente gravado no pingente de ouro junto às lembranças submersas.
Mas o nome não mais importa quando uma história chega ao fim.
sacharuk