tarefa inglória
repete todo santo dia
faço sempre a mesma coisa
preciso calçar as galochas
e desfilar entre rochas
de mármore e granito
revisito o mesmo rito
enquanto a carne esfria
se o dito é poeta se lê poesia
se o cujo é crente se lê oração
mas no fim é só casca e caixão
eu já cavei tantos buracos
ouvindo o choro dos fracos
mandei alguns para o lado de lá
em golpes contritos de pá
e ofícios de carpideiras
mas, juntar as caveiras
é a tarefa mais inglória
pois vejo uma sombra ilusória
que se lança e se esgueira
nas ruas de mármore frio
sempre sinto um calafrio
mas aprendi a manter a calma
pois sempre haverá uma alma
assombrando o terreno
em busca de um lugar ameno
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