Via crucis
Antes de abrir a porta, sabia dos estragos no tapete da sala, das luzes apagadas e do perfume barato. Queria girar a chave, entrar e se manter acordado, queria não ouvir passos. (Andréa Iunes)
Entraste e fechaste a porta por dentro, enlaçaste as tramelas de ferro. Havia, naquela parede, a réplica da santa ceia e, para ela, olhaste. Para nada mais. Andaste seis passos até a poltrona. Permaneceste sentado de olhos fechados.
À noite, sonhaste com uma dúzia de abutres famintos pousando sobre o tapete. O mais furioso bicava teus pés e tuas mãos e, logo após, espargiu suas garras atrozes sobre a tua cabeça.
Quando acordaste os policiais já estavam aqui. Te forçaram a carregar o corpo até o final da rua. Lá, a viatura da central de homicídios já nos aguardava. Depois, bem sabes, eu entrei novamente na tua história.
Dessa feita, te dei uma partida lenta e segura onde tiveste braços longos e abertos, tal asas, e teus pés juntos perfizeram uma cauda. Novamente pudeste voar.
Das tantas vezes que te libertei, ainda me intriga saber por qual razão ainda te amedrontas quando ouves os meus passos.
sacharuk
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