Pela Palavra
É somente o uso da palavra que garante um pequeno grau de distinção entre as pessoas e os outros bichos.
Quanto a mim, a timidez me confinou à eterna tentativa de domar meus instintos, enquanto Aristóteles assombrava com aquela ideia de animal político. E eu não encontrava tanta politicidade em minha animalidade.
Ainda questiono minha capacidade de integrar uma sociedade e constituir um Estado. É a palavra o único acesso que tenho ao mundo das pessoas... Por ela sou facilmente influenciado e posso tentar influenciar. É ela que me faz distinguir o meu bem do meu mal e disfarçar a imoralidade. Modelo o pensamento seguindo signos confusos que gritam no meu cérebro. Mas, o mais significativo, é que pela palavra invento alcunhas aos meus sentimentos e valores (quais?), e assim, faço uma bruta distinção entre as coisas e selo suas diferenças. Todos precisam de rótulos para ser animal político.
Penso que toda essa complexidade se sintetiza num ser vivente, do tipo social, revestido da textura material das palavras e, invariavelmente, mal compreendido. Como escreveu Lispector: "Inútil querer me classificar... eu simplesmente escapulo... gênero não me pega mais..."
Toda linguagem não dá conta dessa abstração. A brincadeira com os clichês me conduz ao entendimento dos rótulos. E na minha poesia, ingênua e simples, eu posso alcançar alguma catarse. E com ela ainda permito a expressão da animalidade. E nem gênero, espécie ou Aristóteles me pegam mais.
sacharuk
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